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Livraria virtual 'Chesterton Livros'

14.6.12

Chesterbelloc e o Distributismo


Diego Guilherme da Silva
Editor do site Chesterton Brasil
Publicado originalmente na Revista In Guardia, Ano I, v. 5, abril 2012


Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) era versado na arte das letras. Além de jornalista, romancista, poeta, crítico literário, ensaísta, polemista, apologista, biógrafo, cartunista e filósofo (e pensarem que esgotamos seus dons, ainda não), Chesterton também trilhou pelo campo da economia.

Motivado pela Encíclica Rerum Novarum[1] (Das Coisas Novas), do Papa Leão XIII, publicada em 1891, que marcou o pensamento da época e foi inspirando a Doutrina Social da Igreja, que apesar de sempre presente no catolicismo ainda não estava sistematizada, Chesterton, desiludido com as falsas esperanças propostas pelo capitalismo e socialismo, juntamente com seu amigo Hilaire Belloc (1870-1953), autor do livro Estado Servil (1912), Chesterton escreveu a respeito:  “quando o Sr. Belloc escreveu a respeito do Estado Servil, ele estava apresentando uma teoria econômica tão original que quase ninguém ainda percebeu do que se trata.”[2], e também com o apoio do Pe. Vincent Joseph McNabb, desenvolveram uma filosofia econômica conhecida como Distributismo, visto como ‘terceira’ via ao invés do capitalismo e socialismo. Pois, segundo a máxima de Chesterton: Capitalismo demais não significa capitalistas demais, mas capitalistas de menos.

Chesterton e Belloc, ou “ChestertonBelloc”, como Bernard Shaw os chamavam, verão de perto as transformações tecnológicas e industriais que a Inglaterra vivenciou ao final do século XIX e início do século XX. As rápidas mudanças do estilo de vida, a poluição, ganância, pobreza e a desestabilidade da família ocasionada pela pobreza, exploração dos menores não deixaram de chamar a atenção de Chesterton, tão zeloso e amoroso com o tema ‘lar’, que remete a família. Ele não se esqueceu que economia também significa ‘administração doméstica’, ‘administração do lar’. Tinha presente que a economia não é uma ciência exata e fria reduzida a dados quantitativos, mas sim humana, pois está atrelada diretamente as nossas relações humanas, devendo, portanto, ser pautadas no respeito à dignidade da pessoa humana e em vista ao bem comum. Pois, afinal, o princípio e fim de tudo estão na transcendência.

Para Chesterton tudo começa na família, no lar. Fantástico mundo da criança, primeiro contato dela com a realidade. Ele via claramente o perigo da sociedade capitalista monopolista: “Um inimigo ainda mais feroz da família é a fábrica. Entre estas coisas mecânicas modernas a instituição natural antiga não está sendo reformada, modificada ou mesmo podada: ela está sendo dilacerada. E ela não está sendo dilacerada no sentido de uma metáfora verdadeira, como a de um ser vivo preso em uma engrenagem medonha de uma máquina. Ela está sendo, literalmente, rasgada ao meio, como quando o marido vai para uma fábrica, a esposa para outra, e a  criança para uma terceira. Cada um deles se torna o servo de um grupo financeiro diferente, que cada vez mais ganha o poder político de um grupo feudal. Mas enquanto o feudalismo recebia a lealdade das famílias, os senhores do novo estado servil recebem apenas a lealdade de indivíduos, ou seja, de homens solitários e até mesmo de crianças perdidas.[3]

O sistema capitalista monopolista  afronta e embrutece o homem o tornando escravo do materialismo, pelo contrário, o socialismo, também materialista, com seu falso messianismos, propõe a felicidade ao homem aqui na terra com a simples mudança do sistema econômico e sua ‘distribuição’, que na verdade é a posse por parte do Estado - que, diga-se de passagem, não é uma entidade sobrenatural – da propriedade privada, não oferecendo soluções concretas para o problema da má distribuição da propriedade e o bem comum. Chesterton via claramente os dois sistemas e seus respectivos erros.

Dócil ao ensinamento do Magistério da Igreja, responde Chesterton e Belloc ao momento conjuntural complexo da Inglaterra com a teoria distributivista. Teoria essa que rapidamente começou a ganhar admiradores. Chesterton e Belloc criaram então a Liga Distributivista. O objetivo da Liga era “restaurar a propriedade”, segundo pronunciou Chesterton no discurso inaugural. Chesterton foi eleito o primeiro presidente da Liga. Ele escreveu uma série de artigos sobre sua teoria no G.K.’s Weekly, os quais foram compilados no livro The Outline of Sanity (1926).”

Podemos ver claramente a influência das idéias distributivistas na obra O Senhor dos Anéis (escrito entre 1937 e 1949), de J.R.R. Tolkien, segundo Matthew P. Akers: “Tolkien inclui soluções distributivistas para os problema associados com o desenvolvimento econômico em sua trilogia. O Condado, lar dos Hobbits, sofre muitos dos problemas de nossa sociedade moderna, em particular uma crise econômica, a destruição de seu meio ambiente e a tentação do imperialismo. Examinemos, pois, como os Hobbtis do Condado aplicam os princípios distributivistas a esses problemas para ver como poderíamos tratar esses mesmo problema em nossa sociedade”.[4] Infelizmente o filme dirigido por Peter Jackson não reproduz muito bem essas passagens da obra.

O Distributismo, basicamente, possui como bases três fundamentos presentes na Doutrina Social da Igreja: Propriedade Privada, princípio da Solidariedade e princípio da Subsidiariedade. Explicamos  cada um deles:

O primeiro e mais importante princípio do distributimo é o da  Propriedade Privada. Para Chesterton a propriedade privada era sagrada. No universo de uma propriedade, pois a propriedade é “um território circunscrito em que ele [o homem] é rei”. Pois assim Chesterton defendia que “a propriedade privada deve ser distribuída com suficiente e decente igualdade”. Pois, como nos é lembrado por Leão XII, a propriedade “é de direito natural para o homem: o exercício deste direito é coisa não só permitida, sobretudo a quem vive em sociedade, mas ainda absolutamente necessária” (12), afinal “não é das leis humanas, mas da natureza, que emana o direito de propriedade individual” (28). Todos os homens possuem, portanto, direito a uma propriedade. Isso é imprescindível para sua dignidade como pessoa, afinal, Deus deu a terra para que o homem a dominasse e não para que os homens dominassem, no extremo oposto ao sentido de dominar cristão, uns aos outros.

O tema propriedade privada terá tanta importância para Chesterton que em diversos artigos encontramos cometário a respeito  do tema. Em um capítulo do livro The Well and the Shallows (1935) intitulado Sex and Property, Chesterton nos alerta para o risco de não usufruirmos bem da propriedadea noção de reduzir a propriedade ao mero fruir do dinheiro é idêntica à noção de reduzir o amor ao simples gozo do sexo.”


O segundo fundamento é o Princípio da Solidariedade que propõe, segundo Don Pedro Jiménez, em seu artigo, Sobre el distributismo[5],  que aqui “não nos referimos a solidariedade vã e falsa, mas sim uma muito profunda, que seria melhor chamada de caridade.” Pois, “o Estado deve trabalhar de maneira subsidiaria para o bem comum de cada comunidade. Não importa se perde eficiência em muitas coisas, o importante é trabalhar para e pelo bem comum, ou seja, tomar aquelas medidas que promovam a virtude entre as pessoas e dessa maneira a sua felicidade.”[6]

Por fim o terceiro pilar da teoria é o Princípio da Subsidiariedade que propõe, também segundo Don Pedro Jiménez,  “dito de uma maneira simples, que o  que possa fazer uma entidade pequena não faça uma entidade grande. A entidade menor é o indivíduo, assim é que aquelas coisas que possam fazer o indivíduo não o faça as grandes empresas. O princípio de subsidiariedade deveria reger tanto na face econômica quanto política. Este princípio é básico e fundamental para o funcionamento de um sistema distributivista.”

Ultrapassa minhas limitadas capacidades aprofundar mais sobre o Distributismo. Fica o convite para que conheçamos mais profundamente no estudo e aplicação da Doutrina Social da Igreja. Fica, também, o convite de Chesterton para conhecermos mais sobre o Distributismo. Concluimos com um trecho do excelente (e recomandado) artigo do Padre Ian Boyd, uma das (eu creio que A) maiores autoridades sobre Chesterton no mundo, El distributismo y la crisis cultural, disponível no site The Distributism Review, a respeito do pensamento social de Chesterton: “O pensamento social de Chesterton está baseado na convicção de que Deus, que é a realidade última, está presente na sociedade e história do homem.


[1] LEÃO XII. Carta Encíclica Rerum Novarum. Sobre a Condição dos Operários. Publicada em 1891. Confira aqui: http://www.vatican.va/holy_father/leo_xiii/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum_po.html CARTA ENCÍCLICA

[2] Chesterton G. K. Capítulo Why I am a Catholic, disponível na obra Twelve Modern Apostles and Their Creeds (1926). Traduzido por Antonio Emilio Angueth de Araujo. Leia mais: http://chestertonbrasil.blogspot.com/search/label/Por%20que%20sou%20cat%C3%B3lico#ixzz1nJZy3H79

[3] CHESTERTON, G.K. The Superstition of Divorce. Capítulo A história da família. Tradução: Carlos Ramalhete. Confira aqui: http://chestertonbrasil.blogspot.com/2012/02/v-historia-da-familia.html#ixzz1nJh3Lg2a 

[4] Matthew P. Akers.  Publicado na revista Distributims Review. El Distributismo en la Comarca. Tradução : Alfonso Díaz Vera. http://distributistreview.com/mag/2011/03/el-distributismo-en-la-comarca/

[5] Don Pedro Jiménez de León. Sobre el Distributismo, artigo publicado na Distributism Review. Confira aqui: - http://distributistreview.com/mag/2010/06/sobre-el-distributismo/

[6] Idem

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