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3.10.11

A Santidade de G.K.Chesterton

Discurso proferido pelo Dr. William Oddie, apresentado no dia 4 de julho de 2009, por ocasião da Conferência 2009 da Sociedade Chesterton da Inglaterra que tinha como tema “A Santidade de G.K.Chesterton”. Depois desta Conferência, foi publicado em novembro de 2010 o livro com o mesmo título do tema, e que foi editado pelo autor do discurso. Nota do tradutor.

Discurso original disponível na The Chesterton Society
Tradução: Pedro Erik Carneiro

Conferência 2009

Em um artigo recente no meu velho jornal The Catholic Herald, eu lembrei um história sobre a Conferência de 2008 da Sociedade Chesterton Americana; e eu vou iniciar minha fala esta manhã contando esta história novamente. Depois que eu falei sobre meu artigo, eu fui perguntado sobre o estágio em que se encontra a beatificação de Chesterton. Quando eu disse que não havia nenhuma Causa, a audiência mostrou sinais de incredulidade. Eu expliquei meio sem jeito que é necessário a evidência de um culto a Chesterton: então, um homem se levantou e disse, mostrando a platéia de mais ou menos 500 pessoas, “Que diabos eles pensam que nós somos?”

Eu acho que eu preciso dizer, todavia, que esta Conferência não tem a intenção de abrir uma campanha pela canonização de Chesterton. Isto não é unicamente uma platéia de Católicos Romanos, e mesmo entre Católicos que acreditam que Chesterton era de fato um santo, há alguns que pensam que canonizá-lo seria, vamos dizer, “contra produtivo”, uma vez que diminuiria o apelo de Chesterton para os não- Católicos. Eu discordo disto; mas não tenho a intenção de impor minha posição.

Mas eu, do mesmo modo, ficaria desapontado se no fim do dia nós não tivéssemos alcançado pelo menos a idéia de que a canonização não seria impensável, ou, como A.N. Wilson recentemente escreveu, “bizarro”. Nas palavras do Prefeito da Congregação das Causas dos Santos, “se para o fiel não [há] reputação de santidade, o bispo não pode nem iniciar a causa”. É essa questão sobre a reputação que deve ser respondida.

Para começar do início, como nós conhecemos um santo quando o vemos? Há um checklist que podemos ir ticando? John  Henry Newman certa vez expressou seu descontentamento com hagiografias que nas suas palavras “cortam um santo entre os capítulos de fé, esperança e caridade”. O perigo, ele pensou, era a criação de uma noção de santidade que era como que branda e conformista. Ele afirmou que os santos da Igreja primitiva “ao invés de escreverem tratados doutrinais formais... escreviam controvérsias”. Não apenas isto, eles “misturavam suas próprias personalidades...com os trabalhos polêmicos e didáticos aos quais eles se entregavam”. Newman poderia talvez estar escrevendo sobre ele mesmo; ele podia também estar descrevendo alguém que ainda iria nascer: Chesterton, você lembrará, negou que ele fosse um romancista, ele disse: “eu não poderia ser um romancista; porque eu realmente gosto de ver as idéias ou noções lutando nuas...e não vestidas mascaradas como os homens e as mulheres. Mas eu poderia ser um jornalista porque eu não consigo evitar em ser polêmico”.

Os Santos da Igreja primitiva eram também muito polêmicos; mas apesar de Newman não gostar de cortarem os santos em capítulos de fé, esperança e caridade, eles dificilmente tinham sido santos sem essas três virtudes cardeais: na verdade, eles se tornaram polêmicos por causa destas virtudes.

É isso acima de tudo de que nós precisamos para entender Chesterton. Ele nunca ostentou sua fé em seus textos. Mas seu compromisso apaixonado com ela poderia emergir a qualquer momento. Em um dos seus freqüentes embates, Canon Barnett lembra que um ouvinte “falou de forma descortês de Cristo”: 

O Sr. Chesterton (lembra Canon Barnett) concedeu-lhe o tempo previsto, e então destilou sua indiferença como um casaco solto, levantou-se, com eloqüência gloriosa e rapidez, falou sobre sua própria fé, esqueceu os incidentes de tempo e circunstância do Caráter que transfigurou a história, e ressaltou que reverência e humildade eram os caminhos que todos os homens deveriam manter abertos, porque apenas eles levam à evolução da verdade. Eu jamais leio algo escrito pelo Sr. Chesterton sem vê-lo naquele palanque defendendo, como um enorme elefante, sua certeza espiritual angélica.

E esta certeza spiritual angélica era intelectualmente decisiva: ela governava seu pensamento absolutamente sobre tudo, se ele estava escrevendo sobre religião ou não. Como ele expôs em dezembro de 1903, ainda muito cedo na sua carreira como escritor: 

Você não pode abandonar a questão Deus; se você fala sobre porcos ou sobre teoria binomial, você ainda está falando sobre Ele...Coisas podem ser irrelevantes para a proposição que o Cristianismo é falso, mas nada pode ser irrelevante para a proposição de que o Cristianismo é verdadeiro. Zulus, jardinagem, açougueiros, loucos no asilo, donas de casa e Revolução Francesa – todas estas coisas não apenas podem ter algo a ver com o Deus cristão, mas devem também ter algo a ver com Ele se Ele realmente vive e reina.

E a percepção dele sobre o mundo real e tudo que há nele tinha já sido transformada pela sua nova fé: como ele escreveu antes naquele mesmo ano, depois da conversão, “com esta idéia uma vez dentro de nossas cabeças, um milhão de coisas se tornam transparentes, como se uma lâmpada fosse acessa atrás delas”.

Assim, nós podemos dizer que a fé dele era a pedra fundamental de seu pensamento. Nós podemos dizer, também, que sua vida inteira exibia a virtude da esperança; na verdade, isto o define como escritor em um século cada vez mais preso na desesperança. E nós podemos dizer também que o que nós chamamos de pessimismo – para ele esta é uma palavra chave – era um das poucas coisas que poderiam provocar realmente raiva em Chesterton, para que discutisse em tom pessoal e feroz. Em nenhum lugar se ver isso mais claramente que no ataque que ele lançou já em 1901 sobre Schopenhauer, aquele grande filósofo da absoluta perda de esperança:

No caso de Schopenhauer, [ele escreveu] tingindo todos os céus com seu próprio humor terrível, é inevitável que nós devêssemos falar em termos pessoais. De todos os homens cujas almas têm influência no mundo, Schopenhauer me parece ser o mais desprezível.


…Em seu famoso ensaio, “O Mistério da Vida”, ele resmunga que “todo desejo satisfeito gera outro novo”, o que parece para mim uma definição de felicidade...Schopenhauer positivamente reclama do fato que o coração é um “abismo sem fundo”, como se encontrar o fundo dele não fosse encontrar o fim da esperança humana. 

A antipatia de Chesterton para com Schopenhauer não precisa explicação; dois seres humanos poderiam dificilmente ser mais diferentes em mente e coração. Em sua Autobiografia, Chesterton escreveu que a vida dele tinha sido “sortuda e feliz de forma indefensável”. Schopenhauer acreditava que “nenhum homem é feliz”; ele certamente não era.

A atitude de Chesterton para com Schopenhauer, nós podemos dizer, é a pedra de toque para sua oposição instintiva a uma das mais poderosas correntes, talvez mesmo a principal corrente de pensamento, da cultura do século XX; é também a pedra de toque para sua relevância profética para aquela cultura e para aquele século. Em retrospectiva, nós podemos ver a gratidão apaixonada de Chesterton com relação à criação e seu amor incondicional para com a humanidade desde o início de sua carreira, fazendo com que o lugar dele na cultura do século XX fosse inevitavelmente mostrar uma revolta apaixonada contra uma civilização na qual, mais e mais, a raça humana estava sendo percebida como habitando o coração da escuridão.

O Intelecto de Chesterton estava inteiramente inundado por sua fé; o coração dele era pleno de esperança que brotava de uma gratidão infalível para com o dom da vida. Em relação a sua caridade, nós podemos dizer que Schopenhauer era um das poucas exceções que confirmaram a regra: em geral, nós observamos claramente o amor dele por seus oponentes. Ele era, como eu tenho dito, como os santos da Igreja primitiva, um polemista. Ele era um polemista porque ele odiava heresia; mas ele tinha uma capacidade extraordinária para amar o herético: ele poderia até ter amado Schopenhauer se ele tivesse se encontrado com ele, como freqüentemente se encontrava com Shaw e Wells: ele talvez até trouxesse esperança para Schopenhauer. Em se tratando de polêmica, não importa quão ardente fosse a discussão, como Belloc escreveu depois de sua morte, “...ele parecia sempre estar em um humor não apenas de compreensão, mas até de admiração em relação a alguma qualidade de seu oponente...era isso nele que fez dele, juntas de outras qualidades, tão amado universalmente”.

Quando Chesterton morreu, ocorreram muitos epitáfios. Pio XI enviou um telegrama descrevendo ele como “um defensor talentoso da Fé Católica”. Mas para a maioria daqueles que o amaram seu verdadeiro epitáfio era aquele verso maravilhoso escrito antes pelo poeta premiado, Walter de la Mare, que, pelo desejo da viúva de Chesterton, Frances, apareceu na folha da cerimônia da Missa de Réquiem; é um verso que eu adoro citar; e eu não posso resistir a tentação de finalizar esta abertura citando-o agora:
Cavalheiro do Espírito Santo, ele segue seu caminho

Sua sabedoria com matizes, Verdade sua adorável brincadeira

Os moinhos de Satanás mantiveram sua lança em mãos

Na Piedade e inocência descansam seu coração.

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