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Livraria virtual 'Chesterton Livros'

21.2.11

Orto... o quê?

Por Gabrielle Greggerzen*
Publicação autorizada pela autora.

Obra centenária de G.K. Chesterton é traduzida e publicada no Brasil


 1935 photograph by Howard Coster.
O título não parece nada atraente, mas a obra tem dado o que falar. A grande mídia brasileira recebe com louvor a notícia do lançamento da edição centenária do clássico Ortodoxia, do jornalista, escritor, palestrante e educador britânico G.K. Chesterton (1874-1936). Ele se tornou popular pelas aventuras do memorável Padre Brown, obras que beiram o fantástico, como O Homem que era Quinta Feira, entre outros trabalhos mais investigativos, como São Francisco de Assis (que lhe rendeu um prêmio no colégio) e Tomás de Aquino. O especialista em história e filosofia medieval Etiènne Gilson considerou esta a melhor obra já escrita sobre Tomás. Como jornalista, contribuiu para importantes jornais de Londres. Seu estilo comunicativo bem-humorado e sua arte argumentativa mereceram apreciação do público seleto de Jorge Luis Borges, Ernest Hemingway, Gabriel García Márquez, e T. S. Eliot. Ele soube dialogar simultaneamente com liberais e conservadores, agnósticos e religiosos, famosos ou não, sem perder o respeito e a compostura.

Ortodoxia é o relato da peregrinação espiritual de um jovem de 34 anos, ex-ateu, ex-socialista, profundamente inserido nas questões do seu tempo, à procura de respostas sinceras para perguntas honestas. Como se deu esta surpreendente e feliz empreitada? "...tentei colocar-me à frente de meu tempo, e descobri que estava 1800 anos atrás"... O navegador achou que havia "descoberto a América", quando, na realidade, havia reencontrado a boa e velha Inglaterra. Mal imaginava ele que, cem anos depois, o livro se mostraria ainda tão atual e incisivo quanto as frases que o tornaram célebre.

A obra foi escrita em resposta aos leitores, que o desafiavam a superar o nível denunciatório da obra anterior, Hereges, em que criticava o ceticismo materialista, racismo antropocêntrico, perda dos valores familiares e educacionais e os totalitarismos da época que redundariam nas duas grandes guerras. Quem sabe, uma das frases mais célebres de Ortodoxia, nesse sentido, seja: "O louco é um homem que perdeu tudo exceto a razão". Por outro lado, ele defende o uso da razão, desde que dentro do que chama de "razoável" para uma obra em relação ao seu criador, o logos ou razão primordial.

Na verdade, Chesterton não pretende ser original. Ele fala do que há muito tempo já sabe o homem comum: Que o mal existe e deve ser combatido. Que a miséria é absurda. Que a realidade também existe e é gloriosa. Que a tirania do passado está sendo substituída pela tirania do futuro. Que as principais questões da vida e sua moral encontram-se já encravadas nos mais insuspeitos contos de fada. Que a ciência tem limites que precisam ser respeitados. Que o novo não necessariamente supera o antigo. Que não existe a neutralidade política, religiosa, econômica. Que o antropocentrismo, os extremismos e outros "ismos" são absurdos. Enfim, que somente quando partimos de um ponto de referência absoluto e reto (orto = reto, doxa = crença ou glória), podemos admitir o que é relativo.

Ao contrário do que dizem os filósofos racionalistas, a glória do saber e da sabedoria não pertence ao homem, ela é sobrenatural. E o mesmo vale para a razão, que, entendida como logos divino, procede, em última instância de Deus e se encarna em Cristo. Então, não existe coisa mais razoável e racional do que reconhecer em Deus o limite da razão humana. Essa paradoxal postura equilibrada entre os extremos do ceticismo racionalista e do sentimentalismo irracional é a marca registrada de Chesterton. A ortodoxia, assim entendida, é "o único guardião lógico da liberdade, da inovação e do avanço". Sem ela estaremos como cegos em tiroteio. Se você quiser conservar um poste de luz branco, explica ele, precisa passar sempre uma nova tinta nele. Inovação não significa destruição; nem tão pouco a tradição, estagnação.

A ortodoxia cristã resume-se ao Credo dos Apóstolos, ou confissão comum a todos os cristãos católicos e protestantes e evangélicos. Longe de ser uma camisa de força, esses princípios simples são a via de acesso a ideais humanos como a justiça, a amizade, a liberdade, a coragem, a paz e a alegria. Esse último é o maior trunfo, pois, como dizia Chesterton, o "que foi a pequena publicidade do pagão é o gigantesco segredo do cristão". Assim, Chesterton resgata o núcleo da fé cristã, capaz de dar sentido à existência humana como um todo.

Com pequenas frases notórias, Chesterton influenciou pessoas marcantes na história como Michael Collins, Mahatma Gandhi e Martin Luther King, além de autores conhecidos, como J.R.R. Tolkien e C.S. Lewis.

O capítulo mais "perigoso" para os denunciados em Hereges é o que fala dos contos de fada (Elfolândia), que é "o país ensolarado do bom senso. Não é a terra que julga o céu, mas o céu que julga a terra." Quem espera deparar-se com um livro convencional, acabará frustrado. Quem se aproximar dele livre de preconceitos pode não acabar cristão, mas é certo que ficará encantado.

*Doutora em Educação pela USP, teóloga e pedagoga. Autora do site: cslewis.com.br

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