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Livraria virtual 'Chesterton Livros'

20.12.10

Um grande escritor

Por Gustavo Corção
Fragmento retirado do capítulo  Um grande escritor,  da obra de Gustavo Corção, Três alqueires e uma vaca, Editora Agir, 1961, p.11-13.


Não me lembro de ter notado, em 1936, a repercussão produzida pelo desaparecimento dessa grande figura do pensamento moderno que foi Gilbert Keith Chesterton. Naquele tempo, é verdade, um luto próximo trazia-me desinteressado dos acontecimentos literários e das mortes distantes; devo assinalar, todavia, que ocorreu nesse tempo, exatamente na época de seu desaparecimento, o meu primeiro encontro com sua obra, começando então  a viver para mim a voz poderosa e cordial, que durante meio século vivificara uma civilização adoentada, com um riso salubre e com um atlético bom-senso. Não dei pelo seu desaparecimento. E creio que esse fato, que para mim teve tamanha importância e se revestiu de tão nítido contraste, vem se processando de modo análogo em relação ao mundo inteiro: Chesterton está crescendo. O mundo que o perdeu não avaliou a justa medida do que perdia; agora, os que o encontram começam a se admirar com o que encontraram.

Chesterton é, efetivamente, um grande escrito. Receio que esta simples frase nada diga ao leitor, que mil vezes já a viu aplicada, ou como revelação de escritores aparecem, ou como elogio fúnebre dos que desaparecem. As admirações estão cansadas. Precisamos instalar amplificadores no estilo para conseguir um pequeno movimento  de solicitude e de interesse; ou então, se não gostamos de descomedimentos, devemos tentar a frase em outra ordem, na esperança de dar às palavras um novo ânimo. Direi, pois, que Chesterton é um escritor grande.

Sua grandeza é extensa e intensa: extensa pela enorme área de assunto que sua obra cobriu; intensa pela força, pela viril energia com que aderiu em todos os pontos, princípios básicos sobre os quais repousam os destinos do gênero humano. Chesterton, no mais exato sentido, é um escritor. Tenho como certo que não há vidas inúteis, no sentido mais duro e mais triste do termo. Não há vidas inúteis: a mais osbcura, que ainda traga aceso e quente o mais malogrado coração, é ainda um bem inestimável e insubstituível, único no gênero, necessário à harmonia do universo. A vida daquele homem que passa com um cesto de legumes na cabeça é – ele talvez não saiba – uma coisa cobiçada! A vida mais amena daquele outro que pisa o arranco do automóvel – ele talvez já o tenha esquecido – é disputada em áspera luta entre os arcanjos.

Não há vidas insignificantes; mas há escritores insignificantes, escritores cujas obras pouco ou nada significam. E quando digo que Chesterton é um escritor, quero afiançar que sua obra tem um sentido, ocupa um lugar, representa um papel, pesa, funciona. Quero dizer, em outras palavras, que a inteligência que se interesse, hoje, por entrar em contato com as realidades mais significativas da cultura universal, que deseje vivamente estar inserida nesse hoje no mundo, não pode deixar de lado, como peça meramente acessória, e quiça inútil, a imensa obra de Gilbert Keith Chesterton.

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