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Livraria virtual 'Chesterton Livros'

18.7.11

O Centenário da obra A Inocência do Padre Brown

Por Diego Guilherme da Silva
Editor do site Chesterton no Brasil

Neste ano de 2011 dois fatos importantes da vida de Chesterton foram comemorados e relembrados. Primeiro foi os 75 anos de seu falecimento (14 de junho de 1936) e que foi destaque em algumas mídias católicas (Iniciativa brasileira recorda os 75 anos do falecimento de Gilbert Keith Chesterton) no Brasil e no exterior. Segundo que comemoramos o Centenário do ‘nascimento’ do sacerdote-detetive Padre Brown.

A inocência do Padre Brown - que está traduzido para o português - foi publicado na Inglaterra no ano de 1911. O primeiro conto da série foi intitulado A Cruz Azul. Neste primeiro conto, Chesterton já demonstra seu estilo e o perfil psicológico e investigativo do seu sacerdote-detetive. O próprio Chesterton em um artigo intitulado “Como escrever uma história de detetive” expõe com clareza a ‘metodologia’ para a criação dos contos. Ele apresenta três princípios necessários para escrever uma história de mistério:

1º “O primeiro e fundamental princípio é que o alvo de uma história de mistério, como de toda outra história e todo outro mistério, não é a escuridão mas a luz.”; 2º “[...] O segundo grande princípio é que a alma da ficção detetivesca não é a complexidade, mas a simplicidade.”; 3º “[...]Em terceiro lugar, portanto, o fato ou a personagem que tudo esclarece deve, tanto quanto seja possível, ser um fato ou uma personagem familiar.

O conto a Cruz Azul gira em torno do possível roubo a uma cruz de safira azul que Brown levava consigo para mostrar aos Padres no Congresso Eucarístico realizado em Londres. M. Hercule Flambeau, “figura tão imponente e internacional quanto o Kaiser”, será o criminoso no conto e tentará de toda forma roubar o Cruz. Para isso, irá se disfarçar de sacerdote e tentará se aproximar do Padre Brown. O detetive do conto se chama Aristide Valentin “francês por completo; e a inteligência francesa é uma inteligência especial e única.” Para Valentim, “O criminoso é o artista criativo; o detetive, apenas o crítico”

A história é seguida pelo encalço do detetive aos dois sacerdotes, ao longo da perseguição Valetim se depara com fatos incomuns, como um dos padres jogar a sopa do almoço na parede, pagar três vezes a mais pelo lanche e dizer que a diferença seria para pagar a janela que iria quebrar; ou esquecer o embrulho em uma loja de doces e pedir para ser enviada a um endereço. Tudo isso seriam sinais deixados pelo Padre Brown.

Após a perseguição, Valetim encontra Padre Brown e o outro padre conversando a respeito de Teologia. Nada mais comum, no entanto um fator causou suspeita no Padre Brown, foi quando Flambeau atacou a razão.

Padre Brown desconfia de Flambeau que o ameaça. Assustado pelo fato de ter sido descoberto, Flambeau pergunta ao Padre como ele o descobriu. Brown diz que não desconfiava de Flambeau até eles conversarem sobre a razão e das evidências demonstradas por ele. Flambeau ainda insatisfeito pergunta como um sacerdote poderia saber tanto sobre a maldade. O Padre lhe responde: "Nunca pensou que um homem que quase não faz outra coisa que ouvir os pecados dos demais não possa deixar de estar a parte da madade humana?"

Padre Brown lhe responde dizendo que “a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão.” E que descobriu que Flambeau era o ladrão após ele ter atacado a razão: “Você atacou a razão; e isso é má teologia
 
A origem do personagem de Chesterton se dá após ele ter se tornado amigo do Padre John O’Connor (1870- 1952), em uma viagem de férias para Yorkshire. Chesterton se encantou com aquele padre simples e de modos educados de origem irlandesa, que estava alocado na Igreja de St. Anne de Keighley.

A inspiração do personagem surgiu quase por acaso, como muitos outros fatos acidentais e curiosos que marcaram a vida de Chesterton. Ele estava com o Padre John O’Connor conversando quando dois jovens estudantes de Cambridge que estavam próximos a eles, comentavam que os padres, por estarem fechados no claustro, nada saberiam sobre o mal no mundo. Chesterton se aproveita deste incidente para criar o famoso sacerdote-detetive. O próprio Chesterton nos relata:
“E surgiu em minha mente a vaga ideia de dar um fim artístico a esses cômicos despropósitos que eram, ao próprio tempo, trágicos, e construir uma comédia na qual um sacerdote aparentemente não saberia nada, não obstante conhecesse o crime melhor que os criminosos. Coloquei essa ideia essencial em um conto pequeno e improvável chamado “A cruz azul”, continuando através das séries intermináveis de contos com os quais afligi o mundo. Em resumo, permita-me a séria liberdade de tomar o meu amigo e dar-lhe uns quantos golpes, deformando seu chapéu e seu guarda-chuva, desordenando sua roupa, modelando seu rosto inteligente numa expressão cheia de fatuidade e, em geral, disfarçando o padre O’Connor de Padre Brown”.
Dale Ahlquist, presidente da American Chesterton Society, escreve em sua resenha sobre o livro A inocência do Padre Brown, que o incidente serviu de inspiração para Chesterton por dois motivos:
“Em primeiro lugar, ele podia resolver os crimes porque ele conseguia adentrar não apenas na mente do criminoso, mas também em seu coração. Em segundo lugar, os criminosos (e todas as outras pessoas) não suspeitariam que ele suspeitasse delas porque ele parecia tão comum e ingênuo. Em outras palavras, sua dupla força eram a sabedoria e a inocência.”
A particularidade do Padre Brown em comparação com outros detetives como os detetives C. Auguste Dupin, de Allan Poe, e Sherlock Holmes, de Conan Doyle está no simples fato dele conhecer melhor do que os outros o coração humano, “ele conhece o mal. Conhece-o como um mistério, e como uma herança. Antes de perseguir ladrões e assassinamos cá fora, já os perseguira nas almas dos penitentes, e na sua própria.” Escreveu Gustavo Corção.

Ao longo dos contos, Chesterton nos apresenta as características do Pe. Brown: “O pequenino Padre não era interessante de ser contemplado: tinha a cabeleira castanha arrepiada e o rosto arredondado e sem expressão,” era o “feioso padre de Cristo”; “Silencioso, era um homenzinho curiosamente simpático”.

Até, imaginem, Antônio Gramsci escreveu certa vez uma de suas cartas na qual elogia o Padre Brown em comparação com Sherlock Holmes:
“O padre Brown é o sacerdote católico que através de refinadas experiências psicológicas fornecidas pelas confissões e pela trabalhada casuística moral dos padres, embora sem menosprezar a ciência e a experiência, mas baseando-se especialmente na dedução e na introspecção.”
O próprio Padre Brown nos diz na obra O Segredo do Padre Brown que o seu segredo estava em conhecer a natureza humana através da confissão. Padre Brown aproveita às oportunidades e fazia o possível para converter os criminosos. Inclusive Brown irá confessar Flambeau que a partir do conto O Homem Invisível, Flambeau se tornará amigo e ajudante de Brown no desenlace dos mistérios e crimes.No conto ‘As estrelas voadoras’ presente na mesma obra Flambeau irá relatar como foi comentido seu último crime. 

Em homenagem a Chesterton, Pe. O’Connor publicou em 1937, um ano depois da morte daquele, a obra Father Brown: on Chesterton, a quem dedicou a sua amiga Frances Blogg, esposa de Chesterton.
”Elas são maravilhosamente bem feitas, e essa é minha sensação após uma segunda leitura. Inicialmente, eu achei seu modo de expressão estranho - há frequentemente uma falta de doçura em seus nomes próprios, e suas circunstâncias materiais são introduzidas de modo muito repentino tão logo eu pensava nelas, mas agora eu estou menos obstinado.
Comemoramos o centenário desta obra magnífica. Chesterton ainda escreveu outras histórias do Padre Brown que seria publicado sobre o título: “A sabedoria do padre Brown (1914); A incredulidade do Padre Brown (1926); O segredo do Padre Brown (1927) e O Escândalo do padre Brown (1935)”. Curioso pensar que de um acaso surgiu um personagem tão importante e que as demais histórias seriam para que a família Chesterton arrecada-se algum dinheiro. Quando os ‘Chestertons’ estavam sem dinheiro, a secretária da família, Dorothy, dizia: “só nos restam 100 libras no banco”. “Está bem, vamos escrever outra história do Padre Brown” e ele o fazia na velocidade de um raio, a partir de umas poucas notas que escrevia num envelope e terminava um ou dois dias depois.”

Parabéns senhor Chesterton pelos benefícios que suas obras trouxeram para a humanidade!


Nota:
As citações aqui a respeito do Padre Brown e demais não referenciadas foram retiradas do livro: 


CHESTERTON, G.K. A Inocência do Pe. Brown. São Paulo: Lpm, 2011.

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